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Mostrando postagens de 2017

Livro 2 - Página 10

A dúvida foi a primeira coisa que veio em meu pensamento, como já havia acontecido. Eu não sabia se havia realmente vivido aqueles momentos na Legião de Iansã ou apenas passado muito tempo em tratamento nas maquinas de Iemanjá, porém reencontrar minha velha amiga me fez pensar muito, pois eu acordara para enxergar meu egoísmo e o quanto estava ainda ligado a Terra. − Fio a vida é muito maior que a Terra e enquanto o ser humano não entender isso será mesquinho e apegado a um amor que não se baseia nos ensinamentos do Cristo e sim em seus próprios interesses. Apesar de sermos espíritos individuais com vontade própria e livre arbítrio, a lei é imutável e ela prevalecerá.  Assim disse João Guiné sentado de frente com o mar, para mim e Humberto. − Então os evangélicos estão certos João, quando dizem que tudo quem decide é o Pai e que prevalece a vontade Dele independente do que fazemos? − Esh fio, em parte sim. Pois da maneira que se usa isso parece que o Pai é um carrasco

Livro 2 - Página 9

Eu congelei e realmente não sei se foi por causa da emoção ou do medo de ver em um único lugar tantas pessoas conhecidas. Me perguntei que tipo de teste viria agora, pois algumas das pessoas que ali estavam nem meus amigos eram, pelo contrário existiam alguns que antes haviam se declarado meus inimigos. O rosto de Caio era indecifrável, mas algo me dizia que ele estava adorando aquela situação − Bem Ortêncio, passe o dia no bosque em contato com a natureza e depois venha ter comigo outra conversa para me contar como foi seu dia. E saiu sem ao menos me deixar fazer qualquer pergunta, as vezes acho que os médicos dos loucos são mais loucos que os pacientes. O local era enorme, maior que um ou dois campos de futebol, existia um pequeno lago no meio e era cercado por árvores frutíferas, flores e plantas estavam por todo o lado e, como em uma praça, havia bancos brancos espalhados por todos os lados. Pessoas de branco conversavam, liam, cuidavam das plantas e sorriam, mas alguns es

Livro 2 - Página 8

Muito se engana aquele que acha que por estar no plano espiritual está livre dos sentimentos que aqui achamos ser de nossa mente apenas, mas que estão enraizados no espírito e que não são diferentes do que sentimos na carne. A diferença é que aqui no plano espiritual sentimos tudo na raiz, o espirito fala mais alto, não temos a carne para nos atrapalhar ou influenciar. E foi assim que eu descobri que, apesar de passar um tempo trabalhando com os mensageiros e sendo um deles, eu ainda trazia em mim o orgulho e a arrogância de sempre. E foi assim que entrei naquele centro de tratamento da Senhora do Tempo. Primeiro eu me sentia traído pelos meus companheiros: eu estava em uma clínica de repouso com pessoas que diziam estar lá por minha causa (pelo menos uma delas dizia) e eu ficava me perguntando o que eu fizera para receber um tratamento desses, perdia a oportunidade bendita de ser tratado na minha dificuldade e de aprender com a lição que o Mestre Maior queria me ensinar. Meu quar

Livro 2 - Página 7

Leda era um ser fantástico e não achei outra palavra para definir sua irradiação de amor. Um turbilhão de energia rodeava a mulher como um furacão e eu não conseguia tirar meus olhos desse ser tão magnifico. Entramos no saguão e por todo lado as paredes eram cobertas de bambus, raios em dourado desciam do teto e uma brisa balançava as folhas. As pessoas caminhavam em sua maioria com pastas ou pranchetas nas mãos, as roupas eram comuns: em sua maioria todos usavam branco e um avental que se dividia entre o vermelho e o dourado. Um balcão em U ficava no centro do saguão e, em como todos os prédios da cidade, tivemos que nos identificar antes de subirmos por um elevador de vidro que parou no 78º andar e aí o cenário mudou drasticamente. O local era quase vazio, um imenso corredor com portas de carvalho (lembrava muito um corredor de hotel), quadros de Iansã estavam na parede. No final, uma imagem de Santa Barbara em um oratório e velas acesas, alguns bancos faziam daquele canto um l

Livro 2 - Página 6

Eu acordara atordoado com uma sensação de culpa e saudade, por minutos não senti o meu corpo. A máquina fora desligada, mas eu permanecia na maca, tanto pelo desgaste do meu períspirito como por vergonha de ainda estar em prantos. Os enfermeiros desligavam os eletrodos com muito carinho, porém sem se incomodarem com o meu pranto. Maria segurava minha mão e Mariana me sorria o sorriso dos que amam e que acolhem as dores de seres tão imperfeitos quanto eu. Ela foi a primeira a falar: – Ortêncio, você está de volta, meu amigo, como se sente?  Demorei alguns segundos para compreender a pergunta e com a voz embargada respondi:  – Ainda não sei Mariana, meu corpo está cansado e minha mente parece estar funcionando muito devagar.  – Eu lhe avisei, amigo, que não seria uma viagem fácil, muitos demoram semanas para ir até aonde você foi e, olha que esse só foi o primeiro passo, precisamos de muito mais tempo para abrir as portas que seu subconsciente fechou devido aos traumas do corpo e do es

Livro 2 - Página 5

Eu ainda demorei um pouco para entender o que acontecia, não revivia o passado e nem voltara para ele, já que isso, mesmo no plano espiritual, não seria possível. Minha consciência fora despertada para que eu recordasse o que há muito havia vivido e para quê isso se dera era minha pergunta, mas a resposta viria de imediato: para que eu não apenas conhecesse minhas profundezas, mas, para que começasse o trabalho de me refazer e de corrigir meus erros. Aquela equipe de trabalhadores não estava ali apenas como meros cientistas ou médicos, eles não eram movidos por curiosidades ou apenas por prazer, mas sim pelo próprio amor do Cristo que nos dava a oportunidade de recomeçar. Logo depois dessa experiência, descobri que alguns espíritos por si só conseguem recobrar sua consciência já que isso também depende de sua capacidade e do quanto sua morte fora traumática ou não. Comigo, por todo o meu apego ao plano material e por todas as mazelas que eu trazia durante minhas encarnações, tal exper

Livro 2 - Página 4

Penetrar na minha profundeza poderia trazer consequências desastrosas se eu não estivesse preparado quando fora colocado nos aparelhos. A partir de então, comecei a andar pela minha escuridão e percebi que ali era apenas eu comigo mesmo. Logicamente, os espíritos que trabalhavam naquele departamento tinham técnicas especiais e estavam preparados para me trazer de volta caso o meu consciente se perdesse diante do que ia encontrar. Sem que eu soubesse, parte da equipe de mensageiros se faziam presente também, Maria, João e Felipe juntamente com Humberto, o qual anotava tudo já que gostaria de levar o trabalho para sua colônia. E, então, encontrei minha mãe. Foi minha primeira visão: uma descendente de índios, já velha, sentada em uma cadeira de um quarto branco. Seu rosto era marcado pela idade avançada. Sentei-me ao lado dela, que sorriu sem nada dizer, enquanto eu já estava em lágrimas. Há muito não via minha mãe e até achava que ela já havia retornado à terra para uma nova experiênci

Livro 2 - Página 3

Pensei que André iria descansar após a grande emoção que passara, mas os enfermeiros, logo após tirarem-no do salão, o levaram para uma outra ala do hospital. Agora, nos encontrávamos em um espaço com algumas dezenas de máquinas, que mais pareciam aparelhos de tomografia, porém, apropriada apenas para a cabeça, seu corpo ficava estirado em uma cama enquanto a cabeça permanecia dentro de um cubo, posto na extremidade. Nela, foram ligados fios que pendiam do tubo, eram tantos que pareciam teias de aranha, sobretudo por suas cores prateadas. Encimando o aparelho havia uma tela de tamanho médio. Ela transmitia o que André pensava ou sonhava naquele momento. Existia uma mesa em frente a uma cadeira, de onde um enfermeiro assistia e tomava nota de tudo que achava importante para o tratamento de André. Isso acontecia ao mesmo tempo com outros espíritos dentro da sala. O trabalho, segundo Mariana, às vezes durava semanas ou minutos. Então, voltei minha atenção a uma senhora deitada a uns tr

Livro 2 - Página 2

Mariana me intrigara com sua pergunta, por que eu não iria querer desvendar minhas profundezas, se isso era tudo o que mais queria naquele momento? Ainda mais depois de uma temporada na escuridão, buscando aprender, pois eu voltara com mais dúvidas sobre mim do que com respostas e precisava saber o que me levara a trabalhar para o mal e por que devia tanto a Malaquias, visto que ele precisava de minha ajuda mais do que nunca. – Ortêncio – Disse Mariana com sua voz suave – a maioria dos espíritos preferem deixar sua parte mais obscura em sua profundeza, uma vez que não é fácil se encontrar com o seu verdadeiro eu e saber quem se é de verdade. Não quero ofender o amigo, mas aqui é muito mais escuro do que as cidades que você visitou nas profundezas, este é o maior desafio do encarnado e continua sendo logo depois de ele desencarnar. Assim sendo, espero que minha pergunta não o tenha ofendido. – Não Mariana, você não me ofendeu, fiquei ainda mais curioso a respeito do que vou enfrentar

Livro 2 - Página 1

Eu achei que saber quem eu era seria mais fácil, mas a tarefa de se descobrir é uma da mais difíceis que se pode ter em nossa vida, tanto carnal quanto espiritual. Ainda assim, sentia-me feliz por agora ser uma semente do bem. Por estar ao lado dos meus companheiros e, principalmente, por aprender que o mundo dos mortos não é uma ilusão ou fantasia, como aquelas contadas em livros bonitos. O plano espiritual, como vocês gostam de chamar, é tão real que, com o mínimo de esforço, os da carne poderiam vivê-lo muito antes de morrer, porém, quem está disposto a isso? Qual de nós fará como Pedro que se transformou de simples pescador de peixes em pescador de almas? Sim, Pedro tinha medos, tinha seus problemas e em alguns momentos lhe faltou a fé, mas nunca lhe faltou o amor. Eu, sentado diante dos prédios de Aruanda, pensava em tudo isso. Passar uns dias em casa, depois de tantas peripécias, estava me ajudando muito, diferentemente do que se pensa o espírito é um ser universal, sim, porém

Nosso mensageiro

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Esta é foto do nosso mensageiro. Achei muito interessante postar esta foto do nosso amigo, pois este é um dos poucos registros fotográficos, outro motivo é dar um rosto para nosso amigo. Afinal, sei que cada um que acompanha esta história o imagina de um jeito e acho que isso nos aproximará ainda mais dele. Como nós, ele esteve aqui nesse planeta tentando fazer sua parte. O Sr. Ortêncio foi um homem bem-humorado, pai de 22 filhos, foi casado com Maria por mais de 30 anos, sendo que nunca, nunca se casou novamente depois do desencarne dela, pois, segundo ele, só se amava uma vez na vida. Ortêncio amava os netos e sua família, trabalhou na estrada de ferro de Cubatão, nasceu na Bahia e se dedicou a fazer o bem ao próximo. Ele sempre falava das coisas do espírito e do respeito ao próximo, tinha um carinho todo especial por cachorros e adorava mamão, dava a mesma atenção a todos que lhe procuravam, sem se importar com classe social. Também adorava se vestir bem e tinha uma paixão incon

Livro 1 - Página 70

Paramos diante de uma grande porta negra de aço, nela estavam esculpidas centenas de caveiras, aliás, mais parecia que o aço fora derramado sobre aquelas formas. Ao nos aproximarmos, a porta se abriu nos dando a certeza que estávamos sendo aguardados. Era um imenso salão onde centenas de espíritos berravam, portanto, o som que vinha lá de dentro era ensurdecedor. O local era iluminado por tochas o que o tornava mais sombrio, se isso fosse possível. Felipe deu o primeiro passo, os seres abriram um corredor e ao fundo pôde se ver que em cima de um mini palco estava sentado, em um trono também formado por caveiras, um ser horripilante. Estávamos a quase quinze metros de distância, mas sua energia tão densa fazia com que meu corpo doesse, a impressão que eu tinha era que meu perispírito começara a se dissolver. Nenhum dos mensageiros falaram nada ou demostraram qualquer reação mesmo que por telepatia, ainda que a caminhada até as proximidades do trono tenha sido feita debaixo apenas dos

Livro 1 - Página 69

A cidade parecia estar em alerta, a agitação se dava por estarmos em frente ao prédio daquele que comandava, se não toda as operações ali, ao menos uma grande parte. Os guardas formaram um cordão de isolamento, distando uns dez passos de nossas costas, enquanto por ali uma pequena multidão de espíritos em sofrimento se formava. Tal multidão aumentava a cada segundo e nós ouvíamos de tudo: alguns pedindo ajuda; outros nos ofendendo e nos expulsando; alguns gritavam contra o tirano, pedindo sua cabeça. Os guardas voltaram com caras de surpresos e/ou contrariados, não sabíamos como decifrar, de qualquer modo nos orientaram a entrar no prédio. A Legião de Ogum ficaria lá fora no cordão de isolamento, já a guarda de Soraia nos acompanharia. O lugar escuro, era mal iluminado por tochas e cheirava muito mal, o térreo não continha móveis, era apenas um grande salão vazio, com uma enorme escada no centro. Subimos com cuidado e, aí sim, começava nossa surpresa com tudo o que víamos.  O general

Livro 1 - Página 68

Nenhum de nós, por respeito ao Preto Velho João Guiné, fizemos qualquer questionamento sobre o que aconteceu ali. Recompomo-nos e, para que ganhássemos tempo e energia, aguardamos a caravana de socorristas. O Preto Velho se manteve calado por mais de uma hora e por algumas vezes as lágrimas banharam seu rosto moreno, sumindo em meio a sua barba branca como algodão. Após o socorro daqueles que de boa vontade acompanharam a caravana, João abriu um sorriso e disse: – Que assim seja! Ficamos no veículo por algumas horas e, após uma reunião, novamente estávamos nas ruas escuras da cidade. Porém, algo diferente acontecia ali, não sei como isso pôde acontecer afinal, mas o ar ficara mais pesado e já não pisávamos em nada sólido, pois as ruas tornaram-se pântanos rasos. Intrigado com o que acontecia, Humberto perguntou:  – O que acontece aqui? O que é este líquido e como ele chegou até aqui? – Foi o guardião Felipe quem respondeu: – Isso, amigo evangélico, acontece por dois motivos, primeira

Livro 1 - Página 67

A batalha duraria menos do que eu imaginara. Aqueles seres tão cheios de si e cobertos de arrogância logo debandaram ao ver que os guerreiros das Legiões de Ogum juntamente com a escolta armada e que completava a equipe, se apresentaram melhor preparados para o combate quase físico, pois havia armas que disparavam redes prateadas, as quais foram disparadas aprisionando alguns deles, que choravam ou esbravejavam. O ser animalesco foi um dos prisioneiros, já entre nós não sofremos nenhuma baixa, como disse Joana da Legião de Ogum ao Preto Velho João Guiné. Descemos o monte, onde ficamos protegidos, vendo os guardiões lutarem. – O que faremos com os prisioneiros? – Foi a pergunta de Soraia a João Guiné. – A fia faz contato com a Legião de Maria e eles se encarregarão de ajudar esses pobres coitados. Ao encontrar-se de frente com o chefe que mugia e gritava ao mesmo tempo, em uma mistura de dor e de raiva, João Guiné disse-lhe:  – Poderia ser de outra forma, fio. Nós, espíritos que tr

Livro 1 - Página 66

Após as explicações de César, nossa equipe teria que atravessar o escuro portão, e foi o mesmo César que nos orientou nessa travessia:  – O que os irmãos veem é uma ilusão, ao atravessarmos o portão da cidade o cenário mudará e espero que vocês continuem firmes para assim continuarmos a penetrar na cidade Nova Geração, os líderes sabem de suas intenções e, claro, não facilitarão em nada a passagem de vocês por aqui. Seus principais alvos são Humberto e o mensageiro Ortêncio Manoel. – Disse o guardião. Isso me causou estranhamento, pois há muito que, além de Maria, ninguém me chamara pelo segundo nome. – Por que nós César? E pode me chamar só de Ortêncio mesmo. Ele me analisou por alguns segundos, que para mim pareceram uma eternidade e me disse: – Aqui, mensageiro, sabe-se mais de você do que se possa imaginar e de sua missão também, todos chamam você assim porque não sabem com qual nome você se apresentará para os viventes que participarão do projeto Mensageiro de Aruanda, e por que