Livro 1 - Página 67

A batalha duraria menos do que eu imaginara. Aqueles seres tão cheios de si e cobertos de arrogância logo debandaram ao ver que os guerreiros das Legiões de Ogum juntamente com a escolta armada e que completava a equipe, se apresentaram melhor preparados para o combate quase físico, pois havia armas que disparavam redes prateadas, as quais foram disparadas aprisionando alguns deles, que choravam ou esbravejavam. O ser animalesco foi um dos prisioneiros, já entre nós não sofremos nenhuma baixa, como disse Joana da Legião de Ogum ao Preto Velho João Guiné. Descemos o monte, onde ficamos protegidos, vendo os guardiões lutarem.

– O que faremos com os prisioneiros? – Foi a pergunta de Soraia a João Guiné.

– A fia faz contato com a Legião de Maria e eles se encarregarão de ajudar esses pobres coitados.

Ao encontrar-se de frente com o chefe que mugia e gritava ao mesmo tempo, em uma mistura de dor e de raiva, João Guiné disse-lhe: 

– Poderia ser de outra forma, fio. Nós, espíritos que trabalhamos na causa do Cristo, preferimos a conversa e não a luta. Porém, não fugimos dela quando se faz necessária. Pois aquele que não vem pelo amor, padece pela dor. Esse nego aqui sabe bem do que está falando... 

– Você acha que me comove, seu negro maldito? Não. Eu nunca vou ser um de vocês. Prefiro a segunda morte a isso. – Disse o ser entre gritos. 

– O tempo, fio, do rancor e do ódio está acabando no planeta Terra e já se prepara uma nova morada do Pai para fios rebeldes que preferem essas condições. A caminhada dos que lá estão renascendo será árdua, fio, e penosa, e antes disso Jesus manda o socorro em pró dos seus. 

– Poupe-me de suas ameaças, velho! Eu não tenho medo do seu Jesus. 

– E nem é para ter, fio. – Respondeu o Preto Velho – Jesus é manso e nos trata com amor, e seu coração sofre com aqueles que pensam como você. Pergunto ao fio, em nome do Divino Nazareno, qual caminho o fio quer seguir? 

O ser sabia que João falava a verdade e que aquela seria sua oportunidade de se melhorar e tentar recomeçar no orbe terrestre já que seu corpo espiritual já começara a tomar forma animalesca em sinal patente de que seu tempo sem uma reencarnação reparadora já se esgotara. Além disso, a ida para um planeta primitivo seria algo temeroso até mesmo para os senhores da escuridão. O silêncio formado por alguns minutos foi quebrado por Soraia: 

– João, ele não irá ceder, deixe que ele responda pelo caminho escolhido. 

Com lágrimas nos olhos, o Preto Velho virou de costas e em passos lentos foi se afastando do ser que gritava e chorava nesse momento: 

– Velho, não me deixe aqui! Eu não mereço isso... Pai, Pai, eu sou seu filho: Arnaldo. Eu sou seu filho, velho maldito. 

Entre lágrimas, João se ajoelhou apoiando a cabeça em seu cajado e entoou uma oração, que mais parecia um lamento dos navios negreiros:

“Pai, ser de misericórdia, sei que sou apenas um pequena gota no seu mar de bênçãos e que não mereço a sua misericórdia, mas me atrevo a pedir o socorro ao filho perdido na escuridão. Que os seus mensageiros providenciem o socorro àquele que sofre e que não enxerga o caminho, senhor, por estar perdido. Oh, meu pai Oxalá, recorro a ti que é mensageiro do amor e que ama seus filhos como a ti próprio. Não conheço outro meio, Senhor, a não ser o seu amor e vos peço com todas as minhas forças: mandai o socorro ao meu coração. Alá, Jeová, Leão de Judá, eu vos imploro! ” 

O lamento do Preto Velho comovera a cada um que estava ali. Até mesmo Soraia, sempre centrada e firme, ajoelhara e orara para que o pedido daquele pai fosse atendido. Então, uma luz se abriu no céu escuro, quando lindos cavalos brancos montados por cavaleiros de armaduras douradas e que escoltavam uma carruagem que, em alta velocidade, veio em nossa direção. Parou de frente a João, que continuará ajoelhado, chorando, e de dentro dela saíram homens com turbantes na cabeça, vestidos de azul; junto deles uma senhora distinta, de cabelos brancos e olhos claros, a qual os homens carregavam numa maca. Sem nada falarem, foram em direção ao ser que agora apenas chorava igual a uma criança. A senhora sorria e disse: 

– Não será fácil, Arnaldo, e, a partir de agora, ele terá que seguir para bem colher o que mal plantou. Sua missão para com esse irmão termina aqui. O alto ouviu sua prece e reconhece o seu amor. Assim como um dia você me ajudou, eu me proponho a ser tutora daquele que um dia foi seu filho na Terra e darei a ele todas as ferramentas para a nova colheita. Porém, sabemos que o jardineiro pode fazer de suas ferramentas o que bem entender. 

Dito isso, a equipe se foi e Arnaldo ou João Guiné cantou: 

"Pai, Pai. Oxalá é Pai. Tantos filhos que ele tem, não reconhecem que ele é o Pai.”

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